Como é feito o vinho do Porto? Descubra os seus segredos

Originário da região do Douro, no norte de Portugal, o vinho do Porto tem uma rica história que se estende pelas encostas íngremes e os terraços que margeiam o rio de mesmo nome. Trata-se de um vinho fortificado, de potência e doçura equilibrada, que encanta aos mais diversos paladares com sua complexidade. 

Mas você sabe como é a produção dessa bebida tão singular? Hoje iremos desvendar os segredos por trás da produção do vinho do Porto, desde as vinhas do Douro até a garrafa.

Douro: o berço do vinho do Porto

O vinho do Porto é elaborado na região do Douro, a primeira área vinícola demarcada do mundo, estabelecida em 1756. Localizada no norte do país, ao longo do rio Douro, essa região é marcada por paisagens montanhosas e encostas íngremes, influenciada pelo clima mediterrâneo, com verões quentes e secos, e invernos amenos e úmidos. A composição do solo é de xisto, com áreas de granito e calcário, que favorecem uma boa drenagem, e conferem características únicas aos vinhos, como complexidade, mineralidade e estrutura.

As uvas permitidas

Na região do Douro, existe uma infinidade de uvas autóctones, sendo mais de 50 permitidas na produção do vinho do Porto. Entre as variedades tintas mais importantes podemos destacar a Touriga Nacional, a Touriga Franca, a Tinta Roriz, Tinto Cão, e a Tinta Barroca. 

Cada casta contribui com características singulares, proporcionando uma complexidade única ao vinho. A Touriga Nacional, por exemplo, contribui para uma estrutura complexa, com aromas intensos e taninos robustos. Por outro lado, a Tinto Barroca participa com a doçura e o corpo, enquanto a Tinto Cão aporta cor, taninos e estrutura.

Já entre as brancas, predominam Malvasia Fina, Gouveio, Rabigato, Moscatel Galego Branco e Viosinho.

Um ritual ancestral: a colheita e a pisa da uva

A vindima acontece entre os meses de setembro e outubro, quando as uvas atingem o ponto ideal de maturação. Aliás, a colheita é manual, visando selecionar os melhores frutos e preservar a qualidade das bagas.

Além disso, o terreno íngreme dificulta a utilização de máquinas. O trabalho árduo em terrenos acidentados é parte da tradição e garante a seleção das melhores uvas.

Algumas quintas ainda mantêm a tradição da pisa da uva, um ritual antigo onde os trabalhadores pisoteiam as uvas para extrair o mosto. Embora a tecnologia moderna tenha introduzido prensas mecânicas, a pisa tradicional persiste em algumas propriedades como uma homenagem às raízes históricas e preservação da tradição na produção do vinho do Porto.

O segredo da vinificação

Após a prensa – ou pisa – das uvas, a fermentação alcoólica inicia com as leveduras transformando o açúcar em álcool. O mosto pode fermentar em cubas de inox ou de madeira, a temperaturas controladas.

Contudo, a produção do vinho do Porto se difere dos vinhos comuns quando interrompe-se a fermentação pela adição de aguardente vínica, preservando a doçura natural e elevando o teor alcoólico do vinho para cerca de 20%.

A maturação e envelhecimento em madeira

Após o processo de fortificação, o vinho segue para outra etapa fundamental para o desenvolvimento do Porto: o envelhecimento em barricas de carvalho.

Nesse estágio, que pode variar de meses a anos, o vinho oxigena e desenvolve complexidade aromática e gustativa, além de adquirir sua cor característica, resultando assim em categorias distintas, como Ruby, Tawny e Vintage.

As categorias do vinho do Porto

Vinho do Porto Ruby

Ruby é o estilo mais jovem de vinho do Porto, envelhecido por um período menor, geralmente de 2 a 3 anos em barricas. Essa maturação mais breve preserva a intensidade da cor – uma tonalidade vermelho rubi, por isso o seu nome – e dos sabores originais das uvas, resultando em um vinho do Porto mais frutado e fresco. Seus aromas remetem a frutos vermelhos e pretos maduros, como cereja, framboesa, ameixa e tâmara, além de chocolate.

Na elaboração do vinho do Porto Ruby pode haver o blend de diferentes safras, de modo a garantir um estilo consistente e de alta qualidade de ano para ano, mas ainda assim, feito para ser consumo ainda jovem e, por isso, não evolui significativamente na garrafa ao longo do tempo.

O Porto Ruby combina com sobremesas à base de chocolate, frutas vermelhas e queijos de sabor mais intenso, apreciado também como aperitivo ou digestivo. Sirva-o ligeiramente gelado, de 14 a 18ºC. Após aberta, a garrafa pode ser consumida durante algumas semanas, desde que mantida na geladeira.

Vinho do Porto Late Bottled Vintage (LBV)

O Late Bottled Vintage (LBV) é produzido a partir do Porto Ruby, porém de uma única colheita, e envelhecido por um período mais longo em barrica de carvalho, entre 4 a 6 anos, antes de ser engarrafado e liberado para o mercado.

Também apresenta coloração vermelho rubi, com acidez moderada e taninos mais firmes. Suas notas lembram groselha preta, cereja e chocolate, além de sabores de frutas secas, especialmente ameixa e uva passa, amêndoa e nozes.

Os Portos LBV resistem por algumas semanas após sua abertura, desde que mantidos refrigerados.

Vinho do Porto Vintage

Também elaborado a partir do Ruby, o Porto Vintage é produzido apenas em anos excepcionais, com uvas de alta qualidade. Seu tempo de maturação é curto, entre 2 e 3 anos, porém, seu potencial de guarda é altíssimo – ele pode atingir seu auge com 15 a 30 anos de garrafa!

Produzido apenas em anos excepcionais, com alto nível de qualidade das uvas. Envelhecido por 2 anos em barricas de carvalho e possui grande potencial de guarda.

Vinho do Porto Tawny

Mais complexos, os vinhos do Porto Tawny não são tão frutados e frescos quanto os Ruby, e seu tempo em barrica de carvalho é bem maior, podendo envelhecer por décadas. Devido a isso, as notas oxidativas estão mais presentes conforme sua idade, e especialmente aromas de nozes, caramelo, bala toffe e baunilha, além de especiarias. As frutas remetem a figo, uva passa, cassis, e até algumas notas de frutos secos e cristalizados.

De cor mais ‘pálida’, que varia do castanho ao dourado, muitos Portos Tawny tem a designação de idade no rótulo: 10, 20, 30 ou mais anos, a qual indica a média de envelhecimento das uvas, e não a idade da colheita dos frutos. Outros exemplares podem ser rotulados apenas como “Tawny”, sem indicação de idade, o que pode ser uma mistura de vários anos. Entretanto, isso não significa que ele não tenha envelhecido, mas apenas que não há uma idade média específica associada.

Há ainda uma categoria que merece destaque, o Tawny Colheita. Neste caso, o vinho é elaborado com uvas colhidas em um único ano específico, sendo rotulado com o ano da safra. Da mesma forma como outros Tawnies, o Colheita passa por um longo período de envelhecimento em barris de madeira, o que lhe confere as características típicas do estilo, como a cor âmbar, os aromas complexos e o sabor refinado.

Os Portos Tawny são muito versáteis em termos de harmonização, podendo acompanhar uma variedade de receitas. Ele combina principalmente com sobremesas à base de frutas secas e pratos de chocolate. Pense em torta de nozes ou amêndoas, torta de maçã com crosta de canela, crème brûlée ou ainda uma cheesecake com cobertura de caramelo. 

Queijos envelhecidos e de sabor pungente, como gorgonzola, roquefort, taleggio, e os de pasta mole, entre eles, brie, comté, mascarpone, gruyère, e suíço também vão destacar a complexidade deste estilo de vinho.

Sirva o Porto Tawny fresco, à temperatura entre 16°C e 18°C. Após aberto, se guardado na geladeira, pode durar um mês.

Vinho do Porto Branco

Além das versões tintas, também é possível elaborar um vinho do Porto Branco. Esse estilo leva em sua produção principalmente as brancas Codega, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Esgana Cão, Gouveio, Rabigato e Verdelho, resultando em vinhos doces, meio seco e seco. Geralmente apresentam notas frescas e cítricas, florais e com um toque de frutas tropicais.

Muitas vezes, consome-se o Porto Branco gelado, como um aperitivo. Porém, é muito comum misturá-lo à tônica, com uma rodela de limão, e fazer o famoso Porto Tônica, um drinque muito refrescante e saboroso.

Celebrando a história e a cultura

Com mais de 200 anos de história, o vinho do Porto é um patrimônio cultural português, apreciado em todo o mundo. Com sua complexidade, história e tradição, ele certamente ocupa um lugar de destaque entre os grandes vinhos do mundo.

Apreciando a rica história e cultura que o vinho do Porto representa, desfrutamos da paixão e da tradição daqueles que se dedicam à produção dessa bebida única. Portanto, cada gole é um convite a explorar a complexidade desses vinhos, e que cada garrafa seja uma oportunidade para momentos memoráveis e experiências únicas.