A origem do vinho quente: dos romanos para o mundo
As tradições associadas ao consumo do vinho quente variam bastante dependendo de onde você está e da época do…
As tradições associadas ao consumo do vinho quente variam bastante dependendo de onde você está e da época do ano! No Brasil, consome-se muito o vinho quente na época das festas juninas. Em qualquer quermesse ou evento nessa época, é comum a presença dessa bebida saborosa e aromática. Nesse caso, embora seja uma época do ano que pode estar fria em algumas partes do país, o consumo não está necessariamente ligado ao clima.
Agora, se você está na Europa, as tradições do vinho quente têm relação com clima e época do ano. Nesse caso, as festas de fim de ano, marcadas por um inverno muitas vezes severo, trazem a bebida como um acalento.
Neste artigo você vai ver
A história do vinho quente
É difícil precisar exatamente quando surgiu o vinho quente. Historicamente, os gregos na antiguidade já eram grandes apreciadores de vinho e tinham, inclusive, o deus Dionísio, a quem atribuíam a benevolência da origem dessa bebida. Dionísio é o deus do vinho, das festas, da fertilidade, da loucura ritual e do êxtase na mitologia grega. Ele é um dos deuses olímpicos e tem frequente associação à cultura e às tradições do vinho e do teatro na Grécia Antiga.
Aqui já temos algumas pistas que indicam onde pode estar a origem do vinho quente. No inverno, com temperaturas rigorosamente baixas, era comum aquecer o vinho para que cumprisse a função de ser reconfortante e amenizar a sensação térmica.
Além disso, ao vinho adicionavam-se especiarias, flores e frutos com objetivo medicinal, que os elementos adicionados ao vinho poderiam trazer.
Dos gregos e romanos para o mundo
Essa tradição se intensificou e disseminou pela Europa com o crescimento do Império Romano na Idade Média. Há algumas teorias que também dizem que, para não perderem vinho que estava prestes a estragar, aqueciam e adicionavam especiarias como canela, noz-moscada e frutos como laranja e outros cítricos, além de flores que traziam um adocicado à bebida.
Em países na Europa onde o frio costuma ser severo, como na Alemanha, é possível ver a presença de uma bebida de vinho quente. Nela também há a adição de aromáticos, confirmando o quanto essa tradição se espalhou em diferentes países.
Vinho quente em diferentes tradições
As tradições de consumo do vinho quente podem ter associação ao clima, notoriamente ao inverno, e também à religiosidade, como é o caso do Brasil. As festas juninas, que homenageiam santos católicos, são tradições que os portugueses trouxeram no processo de ocupação na época das navegações. O vinho quente está associado, no contexto das festas juninas, ao nascimento de João Batista.
No contexto europeu, diferentes países têm suas receitas com adição de ingredientes típicos ou locais. Na França, por exemplo, o vin chaud (vinho quente) pode ter adição de conhaque. Em Portugal, pode-se adicionar Vinho do Porto. Na Alemanha, há o Glühwein, uma versão que está muito atrelada à época natalina.
Qual o melhor tipo de vinho para preparar esta bebida de inverno?
Há quem defenda que vinho quente só deve ser feito com vinho tinto, e isso é tradição. Mas, é claro que isso não é mandatório; se gostar mais, use um branco ou rosé.
O importante é entender que, ao contrário do que muita gente diz — que para vinho quente deve-se usar vinho de qualidade duvidosa —, para se ter um bom vinho quente, deve-se fazer justamente o contrário. É como utilizar vinho para cozinhar. Não adianta usar um vinho mais ou menos e esperar um resultado além disso. Para o vinho quente é igual.
Evidentemente, não é preciso utilizar um vinho de primeiríssima gama, que foi cuidadosamente pensado para ser bebido puro ou harmonizando com um prato. Porém, tente não utilizar aqueles que são notoriamente ruins.
Um bom exercício é pensar em um vinho que se utilizaria para marinar uma carne ou preparar um prato; essa pode ser uma boa lógica para decidir qual escolher. Independentemente de sua escolha ser um branco, um tinto ou um rosé.
Harmonizando o vinho quente
Embora não seja comum pensar na harmonização de vinho quente com comida, os princípios de harmonia entre prato e bebida podem ser utilizados. Tudo irá depender do preparo desse vinho quente, os ingredientes, o vinho de escolha, quantidade de açúcar ou outro dulçor.
O princípio da similaridade pode ser usado para criar uma boa convivência entre prato e bebida. Se fizer um vinho quente mais doce, pense em harmonizar com pratos que tenham quantidade de dulçor similar. Se optar por usar uma quantidade maior de cítricos no preparo, como por exemplo laranja ou limão siciliano, pense em combinar com sobremesas que tragam características parecidas.
Há ainda a opção de usar o contraste na harmonização, e, nesse caso, queijos ou pratos salgados podem criar uma oposição interessante ao paladar e combinarem muito bem. Mas é importante destacar que o vinho quente tem ligação a um momento de festividades em um contexto que dispensa formalidades e rebuscamentos. Se decidir comer canjica ou bolo de milho tomando um bom vinho quente, essa será a melhor combinação que poderá fazer! O importante é se divertir, estar em ótima companhia, comer bem e ter momentos para se recordar.
Dicas de receitas
Há muitas receitas de vinho quente disponíveis na internet, ou até mesmo aquela receita de família que passa de geração em geração. Talvez não valha a pena trazer aqui uma receita, mas sim lembrar de alguns pontos para que você faça o seu vinho quente ficar ainda melhor!
- Não ferva o vinho, isso fará com que o álcool evapore e, se o objetivo é ter álcool, você poderá se frustrar.
- Cuidado com a quantidade de cravo, canela, anis e afins. Essas aromáticas tendem a intensificar seu sabor conforme ficam de repouso no vinho, então tente não exagerar; caso contrário, elas roubarão o sabor.
- Quando usar laranja ou limão em rodelas, fique atento para não amargar a bebida no processo de aquecimento. Uma opção é retirar essas frutas depois que já tiver extraído o sabor ou adicionar novas rodelas depois de o vinho já ter aquecido.
- As canelas em casca podem ser reaproveitadas, por isso opte por usar cascas maiores. Depois de ter extraído o sabor, retire a canela do vinho, lave-a e deixe secar novamente; pode inclusive colocá-la no forno por alguns minutos. Você poderá reaproveitá-la na próxima receita de vinho.
- Experimente fazer seu vinho quente com açúcar caramelizado, dará um sabor todo especial.
De qualquer forma, vou trazer aqui algumas sugestões de receitas diferentes de vinhos quentes para aguçar a sua curiosidade.
Vinho branco quente
Por mais estranho que possa parecer, não deixe de provar um vinho quente feito com vinho branco. Simplesmente vá e experimente!
- 1 garrafa de vinho branco seco
- 100g de açúcar demerara
- Suco de 1 laranja
- 2 rodelas de limão siciliano
- 1 canela em casca
- 4 cravos
- 1 anis estrelado
- 2 sementes de cardamomo abertas
- 1 xícara de maçã picada (opcional)
- 1 xícara de abacaxi picado (opcional)
Modo de preparo
- Em uma panela, coloque o açúcar, leve ao fogo e deixe caramelizar.
- Adicione o suco de laranja e deixe que dissolva parte do açúcar.
- Adicione o vinho e os aromáticos (se quiser, adicione as frutas nessa etapa).
- Deixe o vinho aquecer, sem ferver.
- Tampe a panela e deixe descansar por pelo menos 40 minutos.
- Aqueça antes de servir.
Sugestões: faça a mesma receita, substituindo o vinho branco por vinho tinto ou rosé.
Vinho quente com pimenta
Caso queira criar uma receita inovadora e oferecer aos amigos algo diferente, que tal adicionar uma pimenta no vinho? Utilize a mesma receita anterior, mas adicione aos aromáticos uns 6 grãos de pimenta preta macerados ou ainda um quarto de pimenta vermelha sem semente.
A quantidade de pimenta pode ficar ao seu critério e de acordo com o quão apimentado você deseja que o vinho fique. Mas não exagere.
Vinho quente sem açúcar
Em uma versão menos doce, com uma pitada diet, faça seu vinho quente sem açúcar. Nesse caso, a opção é não utilizar o açúcar indicado na receita ou, se quiser uma versão dietética, adicione um pouco de adoçante em pó ou algumas gotas do líquido depois que o vinho já estiver pronto.
Evite colocar o adoçante no início do processo para assim não acentuar o sabor amargo que alguns adoçantes podem desenvolver quando submetidos ao calor por algum tempo.