Cafés de terceira onda: A história do consumo e produção do café
O café é uma das bebidas de maior consumo no mundo. É uma parte intrínseca de muitas culturas, bem…
O café é uma das bebidas de maior consumo no mundo. É uma parte intrínseca de muitas culturas, bem como um ritual diário na vida de bilhões de pessoas. Mesmo sendo tão popular, não é todo mundo que conhece sua trajetória. Por exemplo, você sabe o que são cafés de terceira onda, ou o que são as ondas do café?
Com uma rica história, de origem na Etiópia, o café rapidamente se espalhou pelo mundo. No entanto, ao longo dos séculos, ele passou por fases distintas de consumo e transformação cultural, levando ao surgimento de diferentes “ondas”. Estas, que moldaram a forma de cultivo, preparo e apreciação do café.
Hoje, vivemos em uma época dominada pelos “cafés de terceira onda”, que valorizam não apenas o sabor, mas também a origem, a sustentabilidade e, além disso, a experiência sensorial da bebida.
Vamos explorar então, neste artigo, o que são as três ondas que marcaram o consumo do café. Passaremos desde sua massificação até as tendências atuais, compreendendo o impacto que ela teve no mercado e na cultura global do café.
Neste artigo você vai ver
O que são as ondas do café?
O conceito de “ondas do café” refere-se a diferentes períodos de consumo e produção, marcados por características e comportamentos distintos dos consumidores, produtores e comerciantes.
Cada onda representa momentos únicos de evolução e refletem o tratamento do café em termos de produção, consumo e experiência. Dessa forma, trazendo uma nova perspectiva sobre a bebida, influenciando o mercado e a cultura do café de maneiras distintas.
Primeira onda
A primeira onda do café começou entre o final do século XIX e o início do século XX, e foi marcada pela massificação do consumo.
Foi nesse momento que o café passou à comercialização em larga escala. Marcas como Folgers e Maxwell House começaram a produzir café instantâneo e pré-moído, tornando assim a bebida acessível a todos.
Apesar de sua conveniência, a qualidade do grão e o sabor do café não eram prioridades. O consumo era impulsionado pela quantidade e pela acessibilidade, e pouco se falava sobre a origem dos grãos, métodos de torra ou diferentes formas de preparo.
Nessa fase, o café era visto apenas como uma fonte de energia ao invés de uma bebida para apreciação.
Segunda onda
A segunda onda do café emergiu na segunda metade do século XX, principalmente nos anos 1960 e 1970. Foi como uma resposta à falta de qualidade e personalização do café da primeira onda.
Empresas como Peet’s Coffee & Tea e Starbucks foram bem importantes neste momento, ao transformar o café em uma experiência social. Ele deixou de ser apenas uma mercadoria e os consumidores passaram a valorizar o sabor.
Assim, as cafeterias se tornaram um espaço de socialização, onde as pessoas se reuniam para apreciar diferentes tipos de café e experimentar novas bebidas.
Com o foco maior na qualidade dos grãos, priorizando a variedade Arábica, a segunda onda também trouxe uma maior conscientização sobre o processo de torrefação. O uso de torras médias e claras, bem como a introdução de novas bebidas, como espressos, lattes e cappuccinos, tornaram-se populares.
Cafés de terceira onda
A terceira onda do café emergiu no início dos anos 2000 e representa uma evolução no modo como consumimos e apreciamos o café. Esta fase tem como característica o foco profundo na qualidade e na origem do café, aliado a um maior respeito pelos produtores e ao cultivo sustentável.
Os consumidores dos cafés de terceira onda passaram a valorizar o relacionamento direto com os produtores, bem como o impacto que isso tem na qualidade do produto final. As fazendas de café começaram a ter reconhecimento não apenas como fornecedores, mas como partes essenciais da cadeia de valor.
Outra característica importante desta onda é a transparência em relação à rede produtiva. Produtores, torrefadores e baristas começaram a trabalhar juntos para garantir que cada etapa, desde o cultivo até o preparo final, ocorra com a máxima atenção à qualidade.
O café, agora, é visto como uma bebida complexa, capaz de oferecer uma ampla gama de sabores, dependendo de sua origem, do processo de cultivo, da altitude e do método de torra.
Com isso, as cafeterias especializadas passaram a oferecer cafés de origem única e a educar os consumidores sobre as diferentes variedades de grãos. Dessa maneira, os clientes tornaram-se cada vez mais exigentes.
Há diferença entre cafés de terceira onda e cafés especiais?
Embora as expressões “cafés de terceira onda” e “cafés especiais” apareçam frequentemente para expressar a mesma ideia, existe sim uma distinção.
O termo “cafés especiais” refere-se à qualidade dos grãos de café, que passam por avaliações, seguindo padrões que a Specialty Coffee Association (SCA) define. Esses cafés são caracterizados pela ausência de defeitos e pela complexidade de sabores, atendendo assim a rigorosos critérios de qualidade sensoriais, com atenção aos processos de cultivo e torra.
Por outro lado, embora os cafés de terceira onda frequentemente sejam cafés especiais, eles não se limitam apenas à qualidade dos grãos. Eles englobam um movimento cultural que valoriza a filosofia por trás da produção, torra e preparo do café, bem como toda a experiência de consumo.
Cafés de terceira onda enfatizam a relação direta com os produtores, práticas sustentáveis e o domínio de métodos de preparo específicos. O consumidor desses cafés não está apenas em busca de sabor, mas sim de uma conexão mais profunda com o processo e a origem do café.
Como a terceira onda dos cafés impacta o consumo?
A terceira onda do café transformou a maneira como os consumidores se relacionam com o café, promovendo uma cultura mais informada e exigente.
Em vez de simplesmente consumir café de maneira casual, os consumidores da terceira onda procuram entender mais profundamente a origem e o impacto social e ambiental de cada xícara que tomam. Com isso, gerou um mercado mais consciente e exigente, disposto a pagar preços mais altos por uma experiência de café mais autêntica e sustentável.
O papel do barista também mudou. Antes, afinal, ele era apenas o responsável por servir o café. Agora, ele é visto como um especialista, alguém capaz de extrair o melhor de cada grão e guiar o consumidor em um universo de sabores e aromas. Esse profissional tornou-se uma figura central nas cafeterias de terceira onda, criando assim um vínculo mais próximo com o cliente e oferecendo uma experiência mais pessoal.
Café e sustentabilidade
A sustentabilidade é um dos pilares centrais da terceira onda do café. Os consumidores mostram hoje um interesse crescente em saber se o café que estão comprando tem sua produção de maneira ética e com responsabilidade ambiental. Eles exigem uma transparência em toda a cadeia produtiva.
Com isso, houve um aumento significativo na procura por cafés certificados com selos de comércio justo e orgânicos, que garantem práticas sustentáveis nas fazendas e melhores condições de trabalho para os agricultores.
A terceira onda também promove a educação dos consumidores sobre o impacto de suas escolhas.
Por meio de informações detalhadas sobre a origem dos grãos, os métodos de cultivo e as práticas sustentáveis, os clientes podem tomar decisões mais informadas e apoiar marcas e produtores que compartilham seus valores de responsabilidade social e ambiental.
Assim, os consumidores estão mais dispostos a pagar um preço mais alto por cafés que são cultivados de forma sustentável e ética, garantindo que toda a cadeia produtiva seja beneficiada.
Isso significa que deve haver uma quarta onda?
Com o sucesso da terceira onda, muitos especialistas e entusiastas começaram a questionar se uma “quarta onda” do café está surgindo. Enquanto a terceira onda foca na qualidade, na experiência sensorial e na sustentabilidade, alguns acreditam que a quarta onda poderia integrar ainda mais tecnologia ao processo de cultivo, torrefação e preparo do café.
Ao mesmo tempo, outros argumentam a possibilidade de um movimento contrário, com a busca por uma volta às raízes. O café pode seguir um caminho ainda mais artesanal, com um retorno às técnicas tradicionais, que minimizam o impacto ambiental e promovem a sustentabilidade em sua forma mais pura.
No entanto, a terceira onda ainda está em plena expansão, e muitos acreditam que seu impacto no consumo de café está longe de se esgotar.
A valorização do café como um produto cultural é um conceito relativamente recente e ainda tem muito espaço para crescimento. É possível que, à medida que a terceira onda de cafés se desenvolve, ela evolua para uma nova era que ainda não podemos prever com exatidão.
Porém, o que parece claro é que o futuro do café tem sim ligação à responsabilidade ambiental e à contínua melhoria das práticas agrícolas e comerciais.
Conclusão
A história do café, desde sua origem até os cafés de terceira onda, reflete uma transformação contínua na maneira como apreciamos e entendemos essa bebida que tanto adoramos.
Desde a massificação do consumo na primeira onda, passando pela experiência social da segunda, até chegar à terceira onda, em que o foco está na qualidade, sustentabilidade e conexão com a origem, o café continua a evoluir.
O que o futuro reserva para o café, porém, ainda é incerto. O consumidor moderno está mais informado, exigente e disposto a explorar novos sabores e experiências. Enquanto discutimos a possibilidade de uma quarta onda, seja através de avanços tecnológicos ou de um retorno às raízes, uma coisa é certa: o café continuará a evoluir, inspirando e conectando pessoas ao redor do mundo.