A Cultura do Café nas Vinícolas: Unindo Duas Paixões

Tanto o café quanto o vinho têm suas raízes profundamente ligadas à terra e à arte da agricultura. Ambos…

Café nas vinícolas

Tanto o café quanto o vinho têm suas raízes profundamente ligadas à terra e à arte da agricultura. Ambos são produtos que refletem não apenas o cuidado dedicado à sua produção, mas também as características únicas de seus terroirs. Essa conexão do café nas vinícolas vai além das semelhanças sensoriais e se estende ao contexto cultural e econômico das regiões de cultivo.

Em locais que tradicionalmente possuem extenso histórico do cultivo do café, como Espírito Santo do Pinhal por exemplo, a introdução de vinhedos representa expansão na diversidade agrícola e também uma continuidade na tradição familiar. 

Todos os produtores de café da região são famílias, e algumas encontraram na viticultura uma oportunidade de ampliar seus horizontes. Assim, foram capazes de integrar duas culturas distintas que, apesar dos cuidados diferenciados, complementam-se.

Como funciona a plantação de café  

 A produção de café é relativamente simples e segue algumas etapas fundamentais:

  • Preparo do solo: Envolve a escolha da área, considerando a parte nutricional do solo, e a implantação das mudas de café no espaçamento correto. O espaçamento varia dependendo se a colheita será mecânica (menos espaço) ou manual (mais espaço).
  • Cuidados fitossanitários: O café é uma planta rústica e resistente, necessitando de menos cuidados fitossanitários em comparação com a videira.
  • Adubação e irrigação: São necessárias adubações iniciais e água conforme a necessidade, mas, em geral, o café é mais simples de cuidar.

Produção

  • Floração: Acontece em agosto/setembro, então os frutos seguem para a fase de maturação.
  • Colheita: Realizada em junho/julho, seguida da secagem, que pode ser feita ao sol ou com um secador.
  • Torrefação: Os técnicos escolhem o melhor método de torra para os grãos de café.    

Como funciona a viticultura          

A plantação das uvas é um processo mais complexo que a de café e inclui:

  • Preparação do terreno: Montagem de estacas e um preparo do solo e adubação mais intensivos.
  • Cuidados fitossanitários: Envolvem tratamentos contínuos, cerca de 10 ao ano, devido à sensibilidade da uva a fungos e pragas e maior umidade na região da Serra da Mantiqueira.
  • Densidade de plantio: Hoje em dia, trabalha-se com cerca de 5 mil plantas por hectare, o que distribui melhor o esforço das plantas e aumenta a produtividade.

Produção 

  • Poda: Realizada em janeiro.
  • Colheita: Acontece entre junho e agosto.
  • Processamento: As uvas colhidas são levadas para a indústria.

Processos Diferentes 

  • Tintas vs. Brancas: A maturação antes da colheita varia, sendo de 140 a 180 dias para as uvas tintas e de 130 a 150 dias para as uvas brancas.
  • Controle de Maturação: Para as uvas tintas, após a fase de pintor (quando a uva muda de verde para tinto), técnicos testam o pH e os níveis de açúcar (bricks) para decidir o momento da colheita.

Pós-colheita 

  • Uvas tintas: Passam por uma máquina desengaçadeira que remove os talos, deixando apenas as bagas, que vão então para os tanques.
  • Uvas brancas: São processadas com os talos em uma bexiga que extrai o suco.
  • Fermentação: O suco extraído passa pelo processo de fermentação, específico para cada tipo de vinho.

A conexão entre cafés e vinhos     

Café e vinho, apesar de serem bebidas diferentes, compartilham certos aspectos. Além de serem bebidas antigas e tradicionais, ambos derivam de plantas/frutas e possuem um tempo certo de maturação que influencia diretamente a qualidade final. 

Plantação e cuidados

A qualidade do café e do vinho tem bastante influência do terroir, com cada planta crescendo em condições específicas que afetam suas características. Como o vinho, o café apresenta diversas castas, cada uma com suas peculiaridades. Os cuidados na plantação e no cultivo também fazem parte da construção das melhores notas sensoriais em ambos. 

Preparo e apresentação

Outro ponto de conexão é a forma de servir as duas bebidas, o que impacta diretamente na experiência de consumo. Um exemplo desse impacto é o processo de oxidação que passam após entrarem em contato com o ar. 

A temperatura também importa. Seja quente, gelado ou em temperatura ambiente, há quem goste de cafés e vinhos de diferentes formas. Explorar diferentes métodos de preparo e apresentação pode realçar os sabores e aromas, proporcionando uma ótima degustação.

Aromas e sabores

Tanto o café quanto o vinho possuem um terroir ideal, que é o conjunto de fatores como topografia, geologia, drenagem, clima e microclima, que impactam seus aromas e sabores. Além disso, uvas e grãos de café apresentam castas, com características e particularidades únicas. 

Os benefícios de plantar café nas vinícolas               

O cultivo de café nas vinícolas traz certos benefícios, tanto do ponto de vista sensorial quanto econômico. A seguir, exploramos como essa combinação impacta a produção de vinho e promove novas oportunidades para a viticultura em regiões tradicionalmente cafeeiras.

A influência do café nas vinícolas

A presença do café nas vinícolas enriquece o perfil sensorial do vinho. Durante a fase de maturação dos frutos, há uma troca de elementos entre as plantas de café e as videiras, resultando em vinhos com notas florais, que resultam em sabores e aromas especiais. Essa troca é possivelmente atribuída ao clima ou ao terroir da região, que facilitam a interação entre as culturas.

Parceria econômica

Foi o café o grande responsável pelas novas oportunidades para a viticultura em regiões como Espírito Santo do Pinhal, tradicionalmente conhecida pela produção de café. A adaptação de vinhedos em espaçamentos das plantações de café permitiu a implementação das primeiras videiras na região. 

Com um clima favorável, foi possível apostar no desenvolvimento da viticultura, diversificando assim a produção familiar local. Por isso, essa é também uma parceria econômica. 

Os desafios de plantar café nas vinícolas                

Mesmo sendo uma junção benéfica, ainda sim existem desafios para vinícolas que também produzem café. A seguir, vamos entender um pouco mais sobre os processos de adaptação pelas quais as duas culturas passam. 

Ciclos de cultivo

Os ciclos de cultivo do café e das uvas são bem diferentes. A implantação de novas mudas de ambas as plantas ocorre simultaneamente durante a época de chuva, mas o preparo da área e a escolha do solo variam bastante. 

Além disso, o cultivo de uvas demanda muito mais trabalho e mão de obra, praticamente o dobro do que é necessário para o café. No entanto, há uma coincidência na época de colheita, para as duas culturas ela ocorre no mesmo período, o que acaba otimizando o uso de recursos durante essa fase.

Adaptação climática 

Outro desafio, já bem solucionado pela equipe Guaspari, é a diferença do clima em relação ao sul do país, grande produtor de vinhos. Enquanto essas regiões podem trabalhar com as técnicas tradicionais, na Mantiqueira utiliza-se a técnica da dupla poda para cultivar uvas de inverno, aproveitando o período de menor precipitação.

A primeira poda acontece em janeiro, com colheita em junho/julho, que segue uma segunda poda em agosto, para preparar as plantas para o próximo ciclo. Esta técnica específica requer ajustes no calendário agrícola e no manejo da plantação, adaptado às características climáticas do local.

Conclusão 

Juntar vinho e café nas vinícolas é unir o útil ao agradável. Ambos compartilham não apenas semelhanças sensoriais e culturais, mas também a paixão de quem os produz. Em lugares como Espírito Santo do Pinhal, onde a cultura do café tem longa história, a introdução de vinhedos não apenas diversifica a produção agrícola, mas fortalece laços familiares e econômicos.

Com muito estudo e dedicação da equipe, os desafios de trazer uma nova plantação e adaptá-la às características de clima e solo foram muito bem superados e, hoje, a Serra da Mantiqueira é também um novo nome na lista de regiões vinícolas do país. 


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