Técnica de dupla poda: entenda sobre a inversão de ciclo da videira

A produção de vinhos de alta qualidade, dignos de prêmios importantes, conta com diversos processos que vão muito além…


A produção de vinhos de alta qualidade, dignos de prêmios importantes, conta com diversos processos que vão muito além do tempo de envelhecimento e tipo de tonel. A história começa lá no campo e, na Serra da Mantiqueira, a técnica de dupla poda tem um papel essencial.

Garantir que a uva atinja o seu potencial máximo de aroma e sabor, que irá se transformar em um vinho diferenciado, é a meta constante dos times que atuam na plantação das uvas, estrelas da vitivinicultura de inverno. 

Para que elas possam brilhar absolutas nos produtos da Guaspari, existem muitas técnicas. Por isso, conversamos com o Rafael Scaramussa, Gerente Agrícola da Guaspari, desde 2012, para entender mais sobre a técnica de dupla poda. Vamos conhecer seus benefícios, desafios e aplicação para a produção de vinhos de inverno. 

Equipe Guaspari:  O que é a técnica da dupla poda?

Rafael Scaramussa: A dupla poda, de um jeito prático, é uma forma de inverter o ciclo produtivo da videira. Em regiões tradicionais de viticultura, como o Sul do país, a poda é feita em agosto para a produção em janeiro, que é no verão. O que fazemos aqui é diferente. Nós temos dois trabalhos. Podamos agora para a formação da planta, preparando-a para podar novamente.

EG: Quais são as etapas da dupla poda?

RS: Neste momento do ano (agosto/setembro), podemos considerar que estamos na primeira etapa, a de formação. Após a colheita, que acontece normalmente entre junho e julho, deixamos a planta descansar por 15 dias, realizando ações de fertilização necessárias. 

Na etapa dois, tiramos toda a parte aérea da planta, deixando apenas uma gema para formar um novo broto, sem focar na produção. Em janeiro, iniciamos a terceira etapa com a segunda poda, desta vez deixando duas ou três gemas, que já trarão os cachinhos de uva. A partir daí, a planta segue se desenvolvendo até a próxima colheita.

EG: Quais são os benefícios dessa técnica para a produção de uvas?

RS: A dupla poda nos permite escapar do período chuvoso do verão, que promove outras características nas frutas, tornando-as mais “aguadas”. No inverno, a precipitação é baixa, o que resulta em uma maior concentração de açúcares e outros compostos na uva. Além disso, a amplitude térmica do inverno, com dias quentes e noites frias, favorece o amadurecimento das uvas, contribuindo para a produção de frutas com mais qualidade.

EG: Por que implantar essa técnica?

RS: A técnica foi desenvolvida por Murillo de Albuquerque Regina, pesquisador da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), com o objetivo de adaptar a produção de vinhos às condições climáticas do Brasil, especialmente no Sudeste, possibilitando a colheita das uvas durante o inverno. Os estudos iniciais ocorreram aqui na região da Serra da Mantiqueira, e nós fomos pioneiros na implementação. Começamos com seis hectares e hoje temos cinquenta. Adotou-se a técnica porque ela proporciona uma qualidade superior de uvas, essencial para a produção de vinhos de alta qualidade.

EG: Como a técnica de dupla poda favorece a produção de vinhos de inverno?

RS: A colheita no inverno permite que a uva apresente uma concentração maior de sabores e aromas, o que é fundamental para a qualidade do vinho. O clima seco e a amplitude térmica favorecem a maturação da uva, não só em termos de açúcares, mas também em compostos fenólicos, que são essenciais para as características do vinho. Com uvas de alta qualidade, os enólogos conseguem extrair o melhor dessas frutas, resultando em vinhos excepcionais.

EG: Quais são as características da produção de vinhos de inverno?

RS: A produção de vinhos de inverno envolve um controle rigoroso da maturação das uvas. Após a mudança de cor, conhecida como pintor, iniciamos um processo de acompanhamento manual, analisando os açúcares, a casca, as sementes, e a polpa da uva. Esse acompanhamento é feito duas vezes por semana, trazendo amostras para o laboratório onde fazemos análises sensoriais para decidir o momento ideal de colheita. Todo esse trabalho, aliado à adaptação ao clima, favorece a produção de vinhos com excelente concentração de sabores e aromas.

Posts Similares